MISSÃO E NOVA EVANGELIZAÇÃO.


Fidelidade renovada

Intervenção no Sínodo dos Bispos de D. António Couto

Igreja sinodal, próxima, fraterna e afectuosa

1. Viver «em sínodo» é a vocação e a missão da Igreja peregrina e paroquial, casa de família fraterna e acolhedora no meio das casas dos filhos e filhas de Deus, no belo dizer do Beato Papa João Paulo II,Catechesi Tradendae [1979], n.º 67; Christifideles Laici [1988], n.º 26.

2. É também o retrato da Igreja-mãe de Jerusalém, saído da paleta de tintas do Autor do Livro dos Actos dos Apóstolos (2,42-47; 4,32-35; 5,12-15), que nos mostra uma comunidade cristã bem assente em quatro colunas: o ensino dos Apóstolos (1), a comunhão fraterna (2), a fracção do pão (3) e a oração (4), e com ramificações em todas as casas e em todos os corações. Trata-se de uma comunidade bela que, dia após dia, crescia, crescia, crescia. Não admira. Era uma comunidade jovem, leve e bela, tão jovem, leve e bela, que as pessoas lutavam por entrar nela!

Igreja da anunciação

3. A vocação e missão da Igreja não é coisa própria sua, mas radica, como exemplarmente deixou escrito o Concílio Vaticano II, no seu Decreto Ad Gentes, no amor fontal do Pai, que enviou em missão o Filho e o Espírito Santo (n.º 2). É nesta missão que se enxerta a missão da Igreja, pelo que não compete à Igreja inventar a missão ou decidir em que consista a missão. Na verdade, o rosto da missão tem os traços do rosto de Jesus Cristo e já foi nele luminosamente manifestado. Temos, pois, uma memória viva a fazer, viver e guardar todos os dias.

Abrindo o Evangelho de Marcos, reparamos logo que o primeiro afazer de Jesus não é pregar ou ensinar, mas ANUNCIAR, que traduz o verbo gregokêrýssô: anunciar o Evangelho (Mc 1,14). E qual é a primeira nota que soa quando Jesus se diz com o verbo ANUNCIAR? É, sem dúvida, a sua completa vinculação ao Pai, de quem é o Arauto, o Mensageiro, o ANUNCIADOR (kêryx). Pura transparência do Pai, de quem diz o que ouviu dizer (Jo 7,16-17; 8,26.38.40; 14,24; 17,8) e faz o que viu fazer (Jo 5,19; 17,4). Recebendo todo o amor fontal do Pai, bebendo da torrente cristalina do amor fontal do Pai (Sl 110,7), Jesus, o Filho, é pura transparência do Pai, e pode, com toda a verdade dizer a Filipe: «Filipe […], quem me vê, vê o Pai» (Jo 14,9).

4. Tudo, no arauto, na mensagem que transmite (kêrygma) e no estilo com que o faz, remete para o seu Senhor. A primeira nota de todo o ANUNCIADOR ou arauto ou mensageiro consiste na sua FIDELIDADE Àquele que lhe confia a mensagem que deve anunciar. É em Seu Nome que diz o que diz; é em Seu Nome que diz como diz.

5. O missionário só tem autoridade na medida em que é fiel a Cristo e como Ele obediente, nada dizendo ou fazendo por sua conta e risco. Só pode dizer e fazer aquilo que, por graça, lhe foi dado ouvir, aquilo que, por graça, lhe foi dado ver fazer. O missionário não pode deixar de estar vinculado a Cristo, nele configurado e transfigurado. O Papa Bento XVI disse-o assim: «Tudo se define a partir de Cristo, quanto à origem e à eficácia da missão». E acrescentou este singular desabafo: «Quanto tempo perdido, quanto trabalho adiado, por inadvertência deste ponto» (Homilia da Santa Missa, Grande Praça da Avenida dos Aliados, Porto [Portugal], 14 de Maio de 2010).

Igreja da fidelidade

6. Impõe-se ainda dizer, é mesmo necessário ainda dizer, em jeito de conclusão ou de introdução, que aquilo que me parece ser mais importante na expressão «nova evangelização» não é tanto a novidade de métodos, expressões ou estratégias, mas a FIDELIDADE da Igreja ao Senhor Jesus (Paulo VI, Evangelii Nuntiandi [1975], n.º 41), ao seu estilo, ao seu modo de viver, de fazer e de dizer: Dom total de si mesmo num estilo de vida pobre, humilde, despojado, feliz, apaixonado, ousado, próximo e dedicado.

Passa por aqui sempre o caminho e o rosto da Igreja, que tem de fazer a memória do seu Senhor, configurando-se com o seu Senhor e transfigurando-se no seu Senhor. Impõe-se, portanto, uma verdadeira conversão do coração, e não apenas uma mudança de verniz. Sim, temos necessidade de anunciadores do Evangelho sem ouro, nem prata, nem cobre, nem bolsas, nem duas túnicas (Mt 19,9-10; Mc 6,6-8; Lc 9,3-4) … Sim, é de conversão que falo, e pergunto: por que será que os Santos se esforçaram tanto, e com tanta alegria, por ser pobres e humildes, e nós nos esforçamos tanto, e com tristeza (Mt 19,22; Mc 10,22; Lc 18,23), por ser ricos e importantes?
+ António José DA ROCHA COUTO
2012-10-16 - Sínodo dos Bispos
Agência Ecclesia



Missões: Faltam católicos para lançar as redes onde Deus é cada vez mais «irrelevante»

O presidente dos Institutos Missionários Ad Gentes (IMAG) diz que é preciso envolver todos os católicos no anúncio do evangelho “24 horas por dia” para responder a contextos onde Deus é cada vez mais “irrelevante”.



Em entrevista ao Programa ECCLESIA, da Antena 1, que foi emitido no Dia Mundial das Missões, às 6h00, o padre Alberto Silva sustenta que num mundo onde a fé “está a mais” e reina a “indiferença”, os fiéis precisam de reforçar o seu “testemunho, diálogo, presença” e caminhar ao lado das outras religiões e culturas. No entender daquele responsável, é isto que está em causa com a Nova Evangelização, não tanto a descoberta de uma outra “linha” orientadora.



O papel dos Institutos Missionários passa por levar as comunidades a abraçarem esse “dinamismo”, a cada momento da sua “vida diária”, seja na sua “rua” seja num outro “continente”, sustenta o missionário comboniano.



De acordo com a directora executiva da associação Leigos para o Desenvolvimento (LD), o processo de envolvimento dos católicos na transmissão da Palavra de Deus requer antes de mais uma mudança de mentalidades. Esta organização não-governamental de apoio ao desenvolvimento ajuda a implementar projectos de carácter social, educativo e religioso junto de populações mais carenciadas, tanto em Portugal como em Angola, Moçambique e Timor-Leste.



“A ideia de missionários leigos, em muitos contextos, ainda não é familiar nem muito compreendida”, aponta Carmo Fernandes, que destaca também a importância da vivência “comunitária” e da formação, enquanto hipótese de “discernimento” da fé e do que se quer fazer com ela. “Pode haver pessoas já com um testemunho cristão mais forte, outras nem tanto, mas começa aqui também a sua interpelação para reflectirem sobre o seu papel na Igreja e depois fazerem o seu discernimento, antes de partirem como missionários”, acrescenta.



Os voluntários dos LD são divididos normalmente em grupos de “três, quatro, cinco elementos” e integram-se “na Igreja e nas equipas missionárias” dos países de missão. Nesta altura, aquele organismo está a ultimar a formação de mais uma equipa composta por vinte elementos.



Na sua mensagem para o Dia Mundial das Missões, Bento XVI fala na necessidade de reforçar o anúncio do Evangelho numa sociedade cada vez mais descristianizada. “É preciso renovar o entusiasmo de comunicar a fé, para promover uma nova evangelização das comunidades e dos países de antiga tradição cristã, que estão a perder a referência a Deus, de forma a redescobrir a alegria de crer”, exorta o Papa. Sublinhando a pertinência do Ano da Fé, que a Igreja Católica promove até Novembro de 2013, Bento XVI encoraja os fiéis a celebrarem a beleza da sua relação com Deus, não tanto numa perspectiva ritual mas missionária.

PRE/JCP - Ecclesia



“A pregação do Evangelho é um dever que incumbe à Igreja” (EN, 5)

1. Na sua mensagem para o 86º Dia Missionário Mundial, a celebrar no próximo dia 21 de Outubro, o Papa Bento XVI recorda os 50 anos do início do Concílio Vaticano II (11 de Outubro de 1962), a abertura do Ano da Fé, que se estende de 11 de Outubro próximo a 24 de Novembro de 2013, o Sínodo sobre a Nova Evangelização para a transmissão da Fé Cristã, a decorrer em Roma de 7 a 28 de Outubro próximo, e desafia a Igreja a calcorrear as estradas do mundo com o mesmo ímpeto missionário das primeiras comunidades cristãs, lembrando-nos que «a pregação do Evangelho não é para a Igreja um contributo facultativo, mas um dever que lhe incumbe» (Evangelii Nuntiandi, n.º 5).

2. Neste sentido, o Papa Bento XVI exorta-nos a refazer as pegadas de São Paulo e o itinerário espiritual da mulher da Samaria (João 4) que, pedagogicamente conduzida por Jesus, abandona o cântaro antigo, que só servia para transportar água antiga, e corre à cidade, não para fazer afirmações paralisantes, mas para deixar no ar um convite e uma fina interrogação que põe a cidade a caminho de Jesus: «Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será ele o Cristo?» (João 4,29).

3. É ainda muito significativo que Bento XVI ponha diante de nós o ímpeto missionário das primeiras comunidades cristãs que, sendo embora pequenas e indefesas, souberam, pelo anúncio e pelo testemunho, difundir o Evangelho em todo o mundo conhecido de então.


4. Passemos então os olhos, com particular atenção e carinho, pelo retrato da Igreja-mãe de Jerusalém, tal como nos chega pela paleta de tintas do Autor do Livro dos Actos dos Apóstolos: «2,42 Eram perseverantes no ensino dos Apóstolos e na comunhão, na fracção do pão e na oração. [...] 44Todos os que acreditavam estavam no mesmo lugar e tinham tudo em comum. [...] 46Todos os dias frequentavam juntos o Templo, e partiam o pão em cada casa, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração, 47 louvando a Deus e tendo graça junto de todo o povo. E o Senhor acrescentava em cada dia o número dos que estavam a ser salvos» (Act 2,42.44.46-47).

Trata-se de uma visita guiada à primeira Catedral da Igreja nascente – mas com ramificações em todas as casas, em todos os corações –, bem assente em quatro colunas: o ensino dos Apóstolos (1), a comunhão fraterna (2), a fracção do pão (3) e a oração (4). Com a boca cheia de louvor, os olhos de graça, as mãos de paz e de pão, as entranhas de misericórdia, a comunidade bela crescia, crescia, crescia. Não admira. Era uma comunidade jovem, leve e bela, tão jovem, leve e bela, que as pessoas lutavam para entrar nela!

5. É uma comunidade bela, fecunda e feliz, que cuida de si, da sua imagem, mas que não está voltada sobre si, mas para fora, luz que alumia quer os que estão na casa (toîs en tê oikía) (Mt 5,15) quer os que entram na casa (hoi eisporeuómenoi) (Lc 8,16; 11,33), dando testemunho da sua bela identidade, sem peias nem vergonha, no meio de um mundo hostil e agressivo. Testemunho diz-se em alemão Zeugnis, testemunhar diz-sezeugnen. Mas zeugnen significa também gerar, sendo mesmo o seu primeiro significado. Então, testemunhar é gerar novos filhos e filhas (Porta Fidei, n.º 7), fazer nascer com o nosso testemunho e a dádiva da nossa vida novas vidas cheias de Cristo, novas teias de esperança e de sentido.

6. O Papa faz-nos olhar depois para a Igreja missionariamente renovada do Concílio, para nela vermos um sinal luminoso de Cristo para todos os continentes. Mas apela logo à Igreja de hoje para que não esmoreça no seu dinamismo missionário, mas o renove, pois está a aumentar o número daqueles que não conhecem Cristo.
De facto, em 1965, o Concílio fala em 2.000.000.000 de não cristãos (Ad Gentes, n.º 10).
Vinte e cinco anos depois, em 1990, o Papa João Paulo II refere que esse número quase duplicou (Redemptoris Missio, n.º 3), número que a missiografia precisa em 3.449.084.000. Em 2000, esse número subia para 4.069.672.000. Em 2006, o número de não cristãos sobe para 4.373.076.000. Para 2025, prevê-se que esse número atinja os 5.220.896.000.
Decididamente, não podemos continuar a olhar para este mundo de braços cruzados. Temos de o amar e evangelizar. À maneira de Cristo.

+ António Couto
Presidente da Comissão da Missão e Nova Evangelização


TRÊS OLHARES E UM CORAÇÃO CENTRADO NA MISSÃO



Cada ano, o mês de Outubro oferece-nos um tempo especial para vivermos com entusiasmo a nossa fé e nos empenharmos com coragem e ardor na missão da Igreja. Este ano, temos razões acrescidas para vivermos este mês centrados na missão, estimulados por três eventos missionários: o Aniversário dos cinquenta anos do Concílio Vaticano II, o Sínodo sobre o tema da Nova Evangelização e a Abertura do Ano da Fé.

Tomando estes três eventos, proponho que este mês missionário seja vivido sob o tríplice olhar missionário:






Um olhar agradecido. Fazemos memória dos cinquenta anos do Concílio Vaticano II que nos deixou um legado inestimável e que continua hoje a ter o seu impacto na vida e missão da Igreja. Daquele sonho do papa João XXIII que esperava que o Concílio fosse “uma lufada de ar fresco” para a Igreja, permanece a visão de comunhão, de diálogo aberto e confiante com o mundo.

Na dimensão missionária recordamos a experiência enriquecedora da universalidade da Igreja manifestada pela presença multicolor de raças e culturas jamais vista no Vaticano. Foi esta presença nova e cheia de paixão pela difusão do Reino que fez entender à Igreja a sua natureza missionária. O Decreto Ad Gentes, torna-se, assim, o porta-voz desta sua consciência missionária (Ad Gentes, 2), que ao longo destas décadas foi desenvolvida por uma reflexão teológica fecunda, renovando sempre a validade da missão e o apelo ao compromisso de todos, como “um dever que incumbe a toda a igreja” e, não só…mas “também hoje a missão ad gentes deve ser o constante horizonte e o paradigma por excelência de toda a actividade eclesial”. Assim, a partir da sua consciência missionária, a Igreja sente-se sempre em estado de missão, “enviada por Cristo pelas estradas do mundo para proclamar o seu evangelho a todos os povos” (Porta Fidei 7).




Um olhar confiante no futuro. O próximo Sínodo – de 7-28 de Outubro –, sobre “a nova evangelização para a transmissão da fé cristã” põe-nos perante a urgência do anúncio de Jesus Cristo e do Seu Reino no presente contexto – em acelerada transformação – em que vivemos hoje a nossa fé. Nestes últimos anos, o nosso contexto sócio-cultural tem sido submetido a mudanças significativas e imprevistas cujos efeitos – veja-se a crise económico-financeira – são bem visíveis e activos nas nossas respectivas realidades locais. E a Igreja tem sido directamente afectada por essas mudanças.

Assim, se, por um lado, evangelizar faz parte da razão de ser da Igreja, e a Igreja jamais interrompeu o caminho da evangelização porque vive sempre em estado de missão, também é verdade, por outro, que ela deve responder com criatividade positiva a este novo contexto sócio-cultural que, neste nosso mundo ocidental, manifesta um processo progressivo e preocupante de descristianização e de perda de valores humanos essenciais.

Confiantes no protagonista da missão, o Espírito Santo, querem assumir uma atitude de discernimento para transformar os mais variados contextos de evangelização (secularização, fenómeno migratório, mistura de culturas, dimensão política e económica, investigação científica …) em lugares de testemunho e de anúncio do Evangelho. Onde estiver um cristão, aí está um evangelizador!



Um olhar amoroso. A abertura do Ano da Fé, neste mesmo mês missionário, oferece-nos a referência fundamental para viver o mês (e o ano) em chave missionária. Efectivamente, neste ano da fé, vamos ser lembrados de que a missão é uma questão de fé, de confiança, “no mistério de Deus, que se revelou em Cristo para nos trazer a salvação”; é também uma questão de anúncio e testemunho do seu amor ao mundo e pelo mundo. Bento XVI exprime-o bem com estas palavras da sua mensagem: A fé em Deus, neste desígnio de amor realizado em Cristo, é antes de tudo um dom e um mistério a receber no coração e na vida e pelo qual agradecer sempre ao Senhor. Mas a fé é um dom que nos é dado para ser compartilhado; é um talento recebido para que produza frutos; é uma luz que não deve ficar escondida, mas iluminar toda a casa. É o dom maisimportante que nos foi feito em nossa existência e que não podemos guardar para nós mesmo”. Efectivamente, Fé e Missão constituem a identidade da Igreja.

Neste ano, e particularmente neste mês missionário, somos convidados a “renovar o entusiasmo de comunicar a fé para promover uma nova evangelização das comunidades e dos países de antiga tradição cristã que estão a perder Deus como referência, a fim de redescobrir a alegria de crer”.



Com um coração centrado na missão. Neste contexto histórico em que vivemos não podemos desperdiçar energias. Enraizados na fé, ousamos sair de nós mesmos, da nossa zona de conforto, queremos atravessar o outro lado da rua ou partir para terras distantes, para ir ao encontro do “outro” com a paixão da missão no coração.

Se o nosso coração estiver centrado na missão, não nos faltarão, certamente, oportunidades de evangelização e de anúncio através de uma “caridade operativa” feita de gestos credíveis de proximidade e solidariedade. «Não devemos ter medo de sujar as mãos, ajudando os miseráveis da terra: para que servirá ter as mãos limpas, se as temos no bolso?» (Cardeal Ravazi, Maio, Fátima)

Que Nossa Senhora, estrela da missão, nos ajude a abrir o nosso coração às riquezas insondáveis da nossa fé, percorra connosco as estradas da missão e torne a Igreja toda missionária. A todos, um mês missionário fecundo.

P. Alberto Silva, MCCJ

Presidente dos Institutos Missionários Ad gentes (IMAG)

in Outubro Missionário 2012


Sínodo: Transmissão da fé é desafio



O presidente da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização em Portugal disse à ECCLESIA que o “problema” na transmissão da fé está do lado de quem anuncia, pedindo “fidelidade” à mensagem original de Jesus.
“O problema não estará tanto do lado das pessoas que não querem ouvir, mas no nosso lado, que anunciamos em nome próprio, juntamos as nossas opiniões, damos uns retoques de última novidade”, refere D. António Couto, em entrevista hoje publicada.
O bispo de Lamego considera que a demasiada preocupação “com as últimas novidades, com as últimas fórmulas” leva a esquecer o “fundamento que é Jesus Cristo”.
“O Evangelho de Jesus, como Ele o diz e o faz acontecer, é a metodologia mais revolucionária que conheço”, sustenta o prelado, para quem não é “necessário inventar coisas novas, nem em termos de métodos nem de expressões”.
Esta metodologia, acrescenta, supõe uma Igreja com “bons líderes”, do clero aos leigos, que “não indiquem caminhos abstratos às pessoas, mas que caminhem com elas”.
D. António Couto vai participar na 13ª assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, que vai decorrer entre os dias 7 e 28 deste mês, no Vaticano, sobre o tema ‘A nova evangelização para a transmissão da fé cristã’.
Antecipando as preocupações que vai transportar, o presidente da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização admite que o “adjetivo novo” pode “trair” os católicos.
“Não precisamos de ser novos noutra dimensão. Temos de ser novos com Jesus. Diria mesmo: novos como Jesus foi, completamente novo no seu tempo”, explica.
Para este responsável, é necessária “fidelidade” ao modelo e à vida de Jesus para implementar uma “nova maneira de presença cristã no mundo”.
O bispo de Lamego admite que a expressão “nova evangelização” visa sobretudo o “Ocidente descristianizado, assético, indiferente, anestesiado”.
“Por isso é preciso nova força, nova dinâmica, nova capacidade de nos colarmos mais a Jesus Cristo para sermos capazes de levar a sua mensagem às pessoas de hoje, quer às crentes que precisam de ser confirmadas e formadas na sua fé, quer àquelas que não acreditam ou que nunca foram despertadas para isso”, observa.
D. António Couto sublinha, a este respeito, que a Igreja Católica “não pode ser aérea e etérea”, mas tem de estar “plantada no meio das pessoas”, através de uma “rede no terreno” que assuma esse trabalho.
Em relação ao próximo Sínodo, o prelado espera que a assembleia de bispos possa “encontrar um fio condutor” para abordar a “vastidão de ideias e problemas existentes”.
O bispo de Lamego, que vai participar nesta reunião magna em nome da Conferência Episcopal Portuguesa, juntamente com D. Manuel Clemente, bispo do Porto, conta levar ao Vaticano “três ideias” fundamentais.
“Viver em Igreja é viver em sínodo, no caminho, na casa, reunidos, em conjunto; a Igreja é uma Igreja que anuncia, da anunciação, que anuncia completamente vinculada a Jesus, porque o anunciador não diz tanto a sua mensagem ou a sua opinião, mas diz a mensagem de quem os envia, no nosso caso a Jesus; a Igreja é uma Igreja da fidelidade, não tanto da novidade”, revela.
PR/OC





ANIMAÇÃO MISSIONÁRIA

 Outubro Missionário


Com os desafios da vivência do Ano da Fé e da abertura do 1º Sínodo Diocesano, entramos no mês de Outubro, também chamado Mês Missionário, não só porque este abre com a memória da padroeira das Missões, Santa Teresinha do Menino Jesus ou se vive o Dia Mundial das Missões (21 de Outubro), mas também porque se recomeça um novo Ano Pastoral, cheio de propostas e horizontes, para uma vivência comunitária e fraterna de todos aqueles que se deixam tocar pelo amor de Deus e o querem testemunhar na vida de cada dia. O apelo cada vez maior da descoberta das razões da nossa fé e esperança, leva a Igreja a tornar-se, cada vez mais, missionária e a fazer de cada um dos seus membros testemunhas fiéis de Jesus Cristo. Não faltam iniciativas a nível universal ou das igrejas locais. Encontros, jornadas, colóquios, vigílias de oração, ofertórios diversos, acções de voluntariado, temas e material. Tudo contribui para fazer nascer e alimentar este espírito missionário, levando-nos a uma abertura total aos outros ao jeito do Senhor ressuscitado. Desde há 50 anos, com o Concílio Vaticano II, e com o documento “Ad Gentes”, que esta matriz fundamental da Igreja se tornou mais visível e mais apaixonante. Também a nossa Diocese, faz uma aposta concreta na animação missionária. Não faltam acções calendarizadas, tempos de formação agendados, missões populares a serem preparadas. Tudo concorre para manter viva e acesa a chama da fé. Entre estes momentos que fazem parte do Plano Pastoral Diocesano sobressaem, já a começar no dia 28 de Setembro, as vigílias de oração missionária, em cada arciprestado. Todavia, quer no mês de Outubro, quer durante o tempo das Missões Populares, quer em qualquer outra ocasião, todos, desde as crianças aos jovens, das famílias aos grupos, dos velhinhos e doentes aos consagrados, todos somos chamados a rezar, comunitária ou individualmente, pela Igreja, pela sua missão.

Corrente missionária de oração 

Este ano vamos procurar dar dinamismo missionário à corrente de oração. Dentro das preocupações da Igreja universal pela nova evangelização e do programa pastoral virado para a missão, vamos tentar fazer uma corrente de oração que seja um movimento de missão. De facto, num ambiente descristianizado e indiferente não basta avisar o momento de oração e abrir as portas do templo para que as pessoas venham rezar. É necessário ir ao encontro dos que não vêm, dos que esqueceram a oração, dos que pela distância ou pela idade não podem aparecer. Vamos, portanto, tentar levar também a boa nova e a oração ao domicílio. Vivemos num ambiente de indiferença religiosa. Deus parece ausente do quotidiano. Onde mora? Sem Deus no horizonte, as pessoas perdem o sentido do infinito e da transcendência. Sem Deus, andamos às escuras e corremos o risco de caminhar para o abismo. Sem fé não há fonte para a esperança nem força para a caridade. Vive-se para o imediato, para o rentável a curto prazo, para o gozo individual. Ou seja, como observa frequentemente Bento XVI, o cerne da crise que nos afecta é a ausência de Deus, é a falta de fé. Sem fé em Deus a pessoa torna-se arrogante, orgulhosa, convencida de que sabe tudo. Nós que formamos a Igreja, temos responsabilidade por esta situação. Onde é que brilha a luz que guia os povos para Deus como a estrela guiou os magos para onde estava Jesus? Estará a Igreja também em crise? “Sê vigilante e fortifica aquilo que está a morrer” diz o Espírito à Igreja de Sardes (Apocalipse) e a nós hoje. Realmente o que está a morrer no coração de muita gente é a fé, a esperança e o amor. No discurso de Natal que fez à Cúria Romana, Bento XVI afirmou que “o cerne da crise da Igreja na Europa é a crise de fé. Se não encontrarmos uma resposta para esta crise, ou seja, se a fé não ganhar de novo vitalidade, tornando-se uma convicção profunda e uma força real graças ao encontro com Jesus Cristo, permanecerão ineficazes todas as outras reformas”. Esta situação convida-nos a dar dinamismo missionário à nossa actividade pastoral e, portanto, também à corrente de oração. Encomendemos a Deus, a Nossa Senhora de Fátima e a S. José, nosso Padroeiro, este projecto para que a corrente de oração desperte os que andam adormecidos na fé, congregue os fiéis em grupos e na comunidade, fortaleça a comunhão eclesial e dê vida e alegria à oração. 

 Vigílias Missionárias, nos Arciprestados 
Durante seis fins-de-semana, começando já na próxima sexta-feira, em Odemira, e terminando a 3 de Novembro, em Santo André, para além do que as paróquias possam fazer, propomo-nos, como comunidade de comunidades, que é cada Arciprestado, reunir-nos em vigília de oração para, desta forma, vivermos o mês do Outubro Missionário. As diversas vigílias estão calendarizadas deste modo: - 28 de Setembro (sexta-feira), no Arciprestado de Odemira, na Igreja Matriz de Odemira, às 21h00, tendo presente o Ano da Fé, o Sínodo Diocesano e a Missão Popular, em Odemira e em Boavista dos Pinheiros, cujo Anúncio vai ser feito no domingo, dia 30 de Setembro; - 06 de Outubro (sábado), no Arciprestado de Moura, na paróquia de Vila Verde de Ficalho, às 21h00, incluída na consagração desta Paróquia ao Imaculado Coração de Maria; - 13 de Outubro (sábado), no Arciprestado de Cuba, na Igreja de Cuba, ás 21h00; - 20 de Outubro (sábado), no Arciprestado de Beja, na Sé Catedral, às 21h00, véspera do Dia Mundial das Missões, e presidida pelo senhor Bispo; - 27 de Outubro (sábado), no Arciprestado de Almodôvar, na Igreja de Aljustrel, às 21h00, na véspera do Dia Diocesano Missionário - 03 de Novembro (sábado), no Arciprestado Santiago Cacém, na Igreja de Santo André, às 21h00, no início da Missão Popular, nesta cidade. Todas as paróquias e comunidades devem organizar-se para que, nos grupos, nas catequeses, nos encontros se reze pelas missões. Quanto possível, uma representação de cada uma delas, deverá participar nestes encontros arciprestais de oração. Eles serão fonte e semente de comunhão e, rezar pela Missão, é tarefa de todos e é uma das formas de ser missionário e de assumir a nossa identidade e matriz. P. Agostinho Sousa CDM/Beja




Jornada Missionária Nacional - 2012

Vaticano II: 50 anos, Missão, Memória e Profecia

Conclusões

Nos dias 14 a 16 de Setembro, reuniram-se no Centro Pastoral Paulo VI em Fátima, cerca de 300 pessoas nas Jornadas Missionárias Nacionais.
O tema escolhido, “Vaticano II, 50 anos, Missão, Memória e Profecia”, pretendeu ajudar a viver o Ano da Fé numa perspectiva missionária.
A alma da Missão é o dom total de si mesmo, ao estilo e plenamente configurado com a Missão de Jesus. Ao missionário e à Igreja pede-se contemplação, fidelidade e entrega total ao anúncio do evangelho a todos.
O Concílio Vaticano II, convocado há 50 anos pelo beato João XXIII, foi uma lufada de ar fresco e apresentou à Igreja um documento ousado sobre a Missão. Um dos autores foi o jovem teólogo Ratzinger, actual papa Bento XVI. O Decreto Ad Gentes afirma que a Igreja é por natureza missionária (AG2) e, talvez por isso, todos os documentos do Concílio ganharam esta dimensão. Tal significou uma nova fundamentação teológica no amor fontal da Trindade que gerou uma mudança de paradigma da missão.
O documento que melhor traduz a receção do Decreto Ad Gentes em Portugal é a Carta Pastoral dos Bispos de 2010, “Como Eu vos fiz, fazei vós também”. Nela se retomam as intuições essenciais do Vaticano II: a Igreja existe para evangelizar e deve dar testemunho do evangelho; a Igreja local é a protagonista da evangelização junto de todos, baptizados e não baptizados; o contributo dos leigos é fundamental nas áreas onde só eles podem intervir e no voluntariado; o testemunho, o diálogo, o anúncio e a profecia são o novo rosto da Igreja missionária num mundo multicultural, multi-religioso e fragmentado social e economicamente; há necessidade de uma espiritualidade missionária que alimente uma atitude de vida de quem está disponível para ser enviado e partir.

A Missão hoje ajuda a construir uma Igreja testemunha do Evangelho, despojada de poder, assente no diálogo e na opção pelos mais pobres. Iniciativas como as geminações, voluntariado missionário, missões populares devem envolver crianças, jovens, adultos e idosos. É dando que se recebe e é abrindo-se ao outro que se impede a asfixia das nossas comunidades cristãs.
D. Henri Teissier, bispo emérito da Argélia, testemunhou de viva voz e experiência feita a missão da Igreja num contexto 100% muçulmano. Falou da riqueza que é anunciar o Evangelho, mesmo àqueles que não se querem converter. Partilhou experiências de testemunho radical como o dos monges trapistas de Tibhirine, martirizados em 1996, na Argélia. A Missão de presença e partilha de vida permite acolher o que os outros têm para nos dar da parte de Deus. O maior testemunho é dar a vida pelos não cristãos.
Esperamos que o próximo Sínodo sobre a Nova Evangelização traga à Igreja um novo dinamismo missionário.
Realizaram-se quatro Workshop’s, em simultâneo, sobre Missão e infância, Missão e Juventude, Missão e voluntariado, Missão e Igreja Local.
Foi dada a sugestão de que o domingo das Jornadas se torne progressivamente a Peregrinação Nacional da Missão.
Solidarizamo-nos com o papa Bento XVI em visita pastoral ao Líbano.
As próximas Jornadas Missionárias Nacionais decorrerão nos dias 20, 21 e 22 de Setembro de 2013.

Fátima, 15 de Setembro de 2012,
memória de Nossa Senhora das Dores



Nova Evangelização: propor Cristo de novo
D. Manuel Clemente, bispo do Porto e vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, é um dos participantes no próximo Sínodo, que vai decorrer em Outubro, no Vaticano.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, antecipa os principais temas que vão estar em debate, perante centenas de participantes, incluindo o Papa Bento XVI.

Agência ECCLESIA (AE) - Que significado novo trouxe à Igreja Católica a expressão “nova evangelização”?
D. Manuel Clemente (MC) - ”Nova evangelização” designou, desde João Paulo II, algo que vinha sendo sentido e não encontrara ainda expressão própria. Refiro-me à necessidade de relançar a evangelização na Europa e além desta, já patente em João XXIII e Paulo VI.
Tal necessidade correspondia à consciência de que o mundo mudara muito ao longo do século XX e sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial. Acentuara-se a deslocação das populações para os centros urbanos, perdendo ritmos religiosos tradicionais; rarefazia-se ou individualizava-se a conotação religiosa da existência; alargava-se a consciência mundialista e inter-religiosa, com acesso generalizado aos media…Estes e outros fatores questionavam íntima e externamente os crentes, em termos de desagregação social e familiar, secularismo, relativismo…
Provindo duma Igreja resistente (ao ateísmo do regime polaco da altura), João Paulo II trouxe para Roma e para o mundo católico uma nova militância, afirmativa e irradiante, muito além das fronteiras vaticanas. Incarnou à sua maneira forte e entusiasta a grande convicção cristocêntrica do Vaticano II e de Paulo VI.
Como jovem bispo conciliar, colaborara na Gaudium et Spes, não se esquecendo de repetir e glosar em todo o seu longo pontificado um dos trechos mais incisivos daquela constituição pastoral: “O mistério do homem só se esclarece verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado” (GS 22).
Para João Paulo II, na esteira dos seus referidos antecessores, “nova evangelização” significa propor Cristo de novo, como realização cabal da esperança humana, pela graça divina.

AE – Em 1983, no Haiti, quando falava na abertura da XIX Assembleia Plenária da CELAM (Conferencia Episcopal Latino-Americana), João Paulo II dizia que esta evangelização deveria ser “nova no seu entusiasmo, nos seus métodos, na sua expressão". Em causa estão questões formais?
MC - Entendemos a esta luz que a famosa expressão de João Paulo II, referindo uma evangelização “nova no ardor, nos métodos e na expressão” é muito mais do que retórica. E pela ordem enunciada, com primazia para o ardor ou entusiasmo.
O Papa estava profundamente convicto de que a paixão por Cristo – e só esta! - encontraria no século XX os melhores métodos e expressões para O testemunhar a quem quer que fosse e onde quer que fosse. Assim como os discípulos de Emaús, a quem “ardia o coração”; assim como Paulo, que queria “alcançar Aquele que o alcançara”; assim como os evangelizadores das épocas expansivas do cristianismo bimilenar; assim como ele próprio assimilara na sua Polónia arriscadamente católica.

AE - Que alcance terão tido os projetos de nova evangelização já concretizados em Portugal?
MC - Para os que nascemos e tivemos catequese antes do Concílio, mantendo-nos depois na vida eclesial activa, a visão retrospectiva recolhe vários indícios de “nova evangelização”, antes e depois de ser assim formulada.
Destaco entre eles: a maior atenção à Palavra de Deus (em chave cristológica), ouvida, lida, meditada e compartilhada; a maior vivência comunitária dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia, como realização do “corpo eclesial de Cristo”; o reforço da acção sócio-caritativa, do diálogo ecuménico e inter-religioso e dos novos modos e protagonistas da missão, longe ou perto; a presença na comunicação social e mediática, assimilando também os seus modos e ritmos; a responsabilização laical e familiar na sociedade, como “fermento na massa” – e numa “massa” que já não se garante em termos de “cristandade”, antes a desafia em pontos cruciais da mentalidade e dos comportamentos…
Nessa e noutras áreas, há muita coisa feita e muitíssima por fazer ou em curso. Quando se estudarem sistematicamente os planos, programas e iniciativas das dioceses, da CEP, dos institutos e movimentos em Portugal, do Concílio aos nossos dias, a visão geral será surpreendente.

AE - Que contributo espera que o Sínodo ofereça ao projecto da nova evangelização?
MC - O Sínodo dará, antes de mais, um conspecto geral e circunstanciado do que se tem feito e pensado sobre o tema, por esse mundo além. Depois, permitirá apurar conceitos, não sendo exatamente o mesmo encarar a “nova evangelização” do ponto de vista “cultural” - incluindo os indispensáveis debates filosóficos e a equação correta das relações entre ciência, razão e fé, bem como a dimensão estética do cristianismo -, ou verificar a condição básica do seu processamento, que passa pela redefinição ou reconfiguração comunitária da vida cristã, meio vital para que tudo o mais aconteça e irradie.
Estas e outras são dimensões distintas e complementares da “nova evangelização”, que o Sínodo ajudará a esclarecer e sistematizar.

AE - É possível determinar o rumo de uma nova evangelização à escala universal? Que desafios estão reservados para as instâncias de decisão e de evangelização locais?
MC - O rumo será decerto cristocêntrico, porque, enquanto cristãos, é com a pessoa de Jesus Cristo que entraremos na reconstrução dum mundo tão fragmentário e dissonante como o atual. Entraremos pessoal, familiar e comunitariamente, vivendo em todas estas dimensões a dinâmica pascal da existência e oferecendo-a aos outros, como possibilidade de realização “em Cristo”.
Isto em geral, porque, localmente, as concretizações serão conformes a cada espaço e cultura. Na primeira evangelização, o cristianismo ganhou a cor própria dos lugares onde chegou, mantendo a seiva comum do Espírito de Cristo. Mas, ainda hoje, mesmo com as particularidades linguísticas e rituais duma Igreja malabar ou copta, grega ou latina, em todas elas nos sentimos “em casa”.
E o cristianismo é uma casa para toda a gente, porque toda a humanidade é a casa de Cristo. Também por isso João Paulo II lembrava que “o homem é o caminho da Igreja” (cf. Redemptor Hominis, 14).
In “Ecclesia”, 06 Setembro





“Hoje, sabe-se que não se evangelizam territórios, evangelizam-se pessoas” 


O presidente da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização e bispo de Lamego, D. António Couto, foi um dos oradores no Curso de Missiologia, que terminou a 1 de Setembro, no Seminário da Consolata. Falou de São Paulo como modelo de missionário e, no final, pediu mais seguidores radicais de Jesus Cristo.

FÁTIMA MISSIONÁRIA- Que imagem de São Paulo transmitiu aos participantes do curso?
António Couto- Tentei mostrar a figura de Paulo como um seguidor radical de Jesus Cristo. Falei essencialmente da metodologia missionária que desenvolveu, muito personalizada, a tempo inteiro, com total dedicação. Paulo nunca fez nada, nem enquanto judeu, nem depois como cristão quando se fez seguidor de Cristo, a menos de cem por cento. Como apóstolo missionário evangelizador cristão, quando levava Cristo a alguém, empenhava-se nisso a cem por cento. Aliás, ele fala talvez muito mais com a sua vida do que com as palavras, porque quem segue Cristo a cem por cento nem precisa de dizer palavras.

FM- Fazem falta à Igreja Católica pessoas mais empenhadas, como foi São Paulo?
AC- A Igreja precisa de seguidores radicais de Jesus Cristo. Foi o que Paulo foi. Alguém que siga Jesus Cristo de perto e não queira inventar e dizer coisas fora daquilo que é Cristo e o seu Evangelho. Paulo inovou completamente sem precisar de inovar, porque apenas imitou Jesus Cristo. Foi até hoje o maior missionário de todos os tempos.
FM- O caminho da nova evangelização passa por ai?
AC- Claro. Não tanto por querermos inovar, à procura de expressões novas, de dar resposta a esta geração de hoje, que é diferente, mas pela nossa fidelidade a Jesus Cristo. Ou seja, em vez de novidade, fidelidade. Se nós vivermos como Cristo, ao estilo de Cristo, seguramente que o mundo mudará, porque a nossa vida muda. Mudando a nossa vida, mudamos a vida dos outros. Se a nossa vida não mudar, escusamos de pensar em mudar a vida dos outros.

FM- Este ano do Curso de Missiologia registou um aumento de participação de leigos. É um bom indicador?
AC- É sempre bom que os leigos percebam que não são de segunda, em relação ao resto da Igreja. Os leigos são extremamente importantes e onde não houver leigos, a Igreja não está suficientemente implantada. Porque o leigo é aquele que leva o Evangelho ao coração do mundo. Quem é que entra nas fábricas, quem é que entra nas escolas, nas casas, nos cafés? São os leigos. Os leigos estão no coração do mundo e o Evangelho tem que chegar ao coração do mundo. Nós temos que nos rodear de muitos e bons cooperadores, como fez São Paulo. Ele podia pouco sozinho, mas se for uma rede de muita gente, será muito mais fácil levar mais longe o Evangelho.
FM- Que papel podem ter os sacerdotes para chamar mais leigos à missão da Igreja?
AC- O papel do sacerdote será sempre importantíssimo. Onde houver um sacerdote motivado e convicto, é muito mais fácil motivar as pessoas. Onde houver um sacerdote desmotivado ou apagado, as coisas correrão com muito mais dificuldade.
FM- As constantes mudanças sociais e económicas levantam novos desafios à evangelização. Como vê o futuro das missões em Portugal, na Europa e no resto do mundo?
AC- É necessário perceber, de uma vez por todas, que a missionação já não se faz em territórios. Isto é, não se faz só na África, na América Latina, ou na Ásia, que eram os antigos territórios de missão. Hoje, sabe-se que não se evangelizam territórios, evangelizam-se pessoas. E as pessoas precisam do Evangelho em todo o lado. Nós temos que ir ao encontro das pessoas e levar-lhes as sementes do Evangelho. A evangelização hoje faz-se onde houver pessoas.

FM- A falta de vocações pode afetar mais os institutos missionários ou as dioceses?
AC- Penso que é indiferente. Onde houver gente empenhada e convicta em servir Jesus Cristo, haverá sempre seguidores. Quando nós adormecermos à sombra da bananeira, aí não temos seguidores. O inquérito recente sobre a identidade religiosa desenvolvido pela Universidade Católica mostra bem que o padre se for menos funcionário e mais missionário, terá muito mais seguidores. As pessoas querem o padre não tanto como um fornecedor de bens e serviços, mas com espiritualidade, com vida interior, ungido por Deus e que passe Deus.

Francisco Pedro in www.fatimamissionaria.pt




O fervilhar da Missão

Comunicar o Evangelho é para a Igreja a tarefa primeira e fundamental, a graça maior e a sua mais verdadeira e íntima identidade.

Embora não apareça nas primeiras notícias dos jornais televisivos, a Igreja em Portugal está atenta às mudanças radicais na sociedade e na cultura e quer acentuar na sua vida e na sua acção o seu ser missionário, tentando redescobrir a beleza e a força transformadora do Evangelho para reencontrar assim a alegria de viver a experiência cristã de maneira mais consciente e activa
.
Está patente no Santuário de Fátima a Exposição Missionária “alarga o espaço da tua tenda”. Aí podemos encontrar a actualidade da missão em Portugal e no mundo. É um espaço, na cripta da Igreja da Santíssima Trindade, onde através da imagem e do som, e acompanhados sempre por missionários e missionárias, podemos sentir o ser missionário. Quem passar em Fátima não deixe de se encontrar com esta exposição. Dela sairá com mais vontade de comunicar Cristo.

Voluntariado Missionário
Neste tempo de Verão são muitos os que se dedicam ao voluntariado missionário em Portugal e nos países em desenvolvimento, uns por uma ou duas semanas, outros por um ou dois meses, outros até por um ou mais anos. Em 2012 há um aumento de 40% face ao ano anterior. O voluntariado missionário é uma escola de olhos abertos que gera uma cultura da sensibilidade e a consciência moral que desperta a bondade que existe em cada um de nós. O voluntário é aquele que acredita que com a sua ação um outro mundo é possível e necessário.

A missão aprende-se, vive-se e partilha-se. É assim que as Obras Missionárias Pontifícias (OMP) e os Institutos missionários ad Gentes promovem, todos os anos, um curso de missiologia. Este ano de 27 de Agosto a 1 de Setembro, no Seminário da Consolata em Fátima. Este curso destina-se aos membros dos institutos missionários religiosos, aos sacerdotes diocesanos, aos missionários em férias, aos seminaristas e estudantes de teologia, aos candidatos e candidatas ao laicado missionário e aos voluntários da Missão. Numa palavra: a todos os que sentem vontade de comunicar a Boa Nova de Jesus Cristo, com capacidade de dizer e fazer felizes os outros onde a felicidade não quer dizer ignorar os problemas que existem mas enfrentá-los juntos, fortes na esperança que nunca defrauda.

Jornada Missionária
Logo a seguir, de 14 a 16 de Setembro realizam-se as Jornadas Missionárias em Fátima, com o tema “Vaticano II 50 anos. Missão, Memória e Profecia”, promovidas pelas OMP. Aí teremos a oportunidade de tomar consciência de ser Missão ontem e hoje ao fazermos memória do Concílio Vaticano II e das suas implicações para hoje. Depois somos levados até à Missão e à Profecia, testemunho vivo de quem no terreno vive as dificuldades e o martírio de propor o Deus de Jesus Cristo à humanidade. Em seguida entraremos na alma da missão, quer dizer, saber a que fonte ir beber a “água fresca” do ardor missionário. E para que essa experiência se faça realidade teremos este ano alguns workshops que nos ajudarão a compreender melhor como “fazer” missão. As jornadas terão a sua conclusão com a celebração no recinto do Santuário. É que a Missão não é “coisa” de alguns, é de todos e para todos.

Todo este fervilhar da Missão continuará no mês de Outubro a ser vivenciado nas comunidades e em cada paróquia através da oração. Para isso muito pode contribuir o guião Outubro Missionário “Vive a Missão transmite a Fé”.

Gostaria que cada vez mais nos puséssemos em estado permanente de Missão, dando testemunho de que também hoje é possível, belo, bom e justo viver a existência humana segundo o Evangelho e, em nome do Evangelho, contribuir para fazer nova toda a sociedade.
Padre António Lopes, SVD
Director Nacional OMP




Bispos de Portugal, tenho uma coisa para vos dizer!
1. No espaço de dois anos e meio, o Papa Bento XVI fez aos Bispos de Portugal dois interessantíssimos discursos: o primeiro, em Roma, em 10 de Novembro de 2007, durante a Visita ad Limina; o segundo, em Fátima, em 14 de Maio de 2010, durante a Visita Apostólica a Portugal.

2. No discurso de 2007, o Papa trouxe para primeiro plano a construção de uma Igreja de comunhão e participação, em que os seus membros não fiquem perdidos e entretidos nas pregas do tempo e da vaidade a discutir quem é o primeiro, mas se ocupem verdadeiramente nas coisas de Deus e no testemunho de Cristo, começando por apostar numa nova e fecunda iniciação cristã, que não vá deixando pelo caminho cada vez mais crianças e jovens. Mais do que os discursos e as ideias, é o encontro testemunhado com a Pessoa de Cristo que é determinante. Era este o caminho, o método.

3. No discurso de 2010, Bento XVI, serenamente feliz, começou por apresentar o Papa como alguém que vive, não para si mesmo, mas para a presença de Deus no mundo, coram Deo e coram hominibus. Esta atitude faz toda a diferença. Por isso, insistiu que os Pastores não podem ser apenas pessoas que ocupam um cargo, mas têm de sentir-se responsáveis pela abertura da Igreja à acção do Espírito, como a harpa de David exposta ao vento do Espírito, de onde saem sempre as mais belas melodias.
Sentinelas atentas, portanto, aos novos movimentos e novas formas eclesiais, que o Espírito vai despertando, e que vão transformando o «inverno da Igreja» em nova primavera.

4. Coram Deo e coram hominibus. Difícil postura, sem equilibrismos, ao mesmo tempo contemplativa e profética. Testemunhal sempre. E Bento XVI voltou a lembrar que os discursos e apelos aos princípios e valores cristãos, ainda que necessários e indispensáveis, não chegam ao mais fundo do coração da pessoa, não tocam a sua liberdade, não mudam a vida. Aquilo que fascina, referiu, é sobretudo o encontro com pessoas crentes que, pela sua fé, atraem para a graça de Cristo, dando testemunho d’Ele.

5. Por isso e para isso, Bento XVI lembrou aos Bispos o caminho pastoral que se propuseram fazer: oferecer a todos os fiéis uma iniciação cristã exigente e atractiva, radicada no Evangelho, e que venha a ter reflexos na vida pública. Por isso e para isso, lembrou ainda o Papa, é necessário um novo vigor missionário de todos os cristãos, chamados a formar um laicado maduro, empenhado na Igreja e solidário no coração do mundo, onde devem ser verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo, sobretudo nos meios humanos onde o silêncio da fé é mais amplo e profundo, e referiu a propósito, os meios políticos, intelectuais e dos profissionais da comunicação.

6. Mas também é fundamental o testemunho da alegria, da caridade e da esperança no mundo deste tempo, com tantas e tão acentuadas carências sociais, com tantas pobrezas, onde sobressai a falta do sentido da vida.

7. Enfim, os Bispos de Portugal devem ser mestres e testemunhas, mestres porque testemunhas, exercendo sempre a sua paternidade episcopal, antes de mais com os sacerdotes, mas também com todos os fiéis, não descurando a denúncia profética e o seu papel de sentinelas que velam pelo rebanho e conduzem o rebanho, sem esquecer a atenção de privilégio que devem sempre saber dar à ovelha perdida. Isto porque, a grande referência para o Papa, para os Bispos e para todos os cristãos é Jesus Cristo. Sem Ele, disse em jeito de desabafo o Papa na Homilia da Santa Missa celebrada no Porto, no dia 14 de Maio: quanto tempo perdido, quanto trabalho adiado!

8. Glosando o título deste breve texto, retirado das palavras certeiras de Jesus que dissolvem os pensamentos tortuosos insidiados no coração do fariseu Simão (Lc 7,36-50), os Bispos de Portugal foram desafiados a verem, para além das muitas acções que vão realizando neste país e neste tempo (a mulher do Evangelho acima citado realiza seis!), a sétima, que é a grande acção da Graça de Deus que há-de ser sempre o fio condutor da sua vida de Pastores, de bons Pastores. Portanto, só estando verdadeiramente e sem subterfúgios e sem intervalos coram Deo, se pode estar também verdadeiramente coram hominibus, prestando a esta humanidade sofrida e desalentada um verdadeiro serviço de qualidade.

9. Para lá dos conteúdos dos discursos com que nos brindou, o maior realce tem de ser posto, todavia, também para que os discursos sejam verdadeiros, no facto de Bento XVI ter sido no meio de nós testemunha qualificada da acção da Graça de Deus em acção no nosso mundo.
(in Ecclesia, Junho de 2010)

D. António Couto, Bispo Auxiliar de Braga
e actual Bispo de Lamego





Conferência Episcopal Portuguesa:
Ecumenismo integrado na Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização
O presidente da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização revelou hoje em Fátima que a área do ecumenismo e o projecto «Repensar a Pastoral da Igreja em Portugal» passam a integrar essa comissão.


D. António Couto, um dos bispos auxiliares de Braga, mantém-se na presidência da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização, antes denominada das Missões, e disse à Agência ECCLESIA que as novas áreas deverão ter dois secretariados.


A vertente ‘Ad Gentes’ [evangelização em países que não são de tradição cristã] “não irá ficar a perder nada e, porventura, será acentuada”, referiu.

Todavia, dada a “abrangência da nova comissão” que terá também o pelouro da Nova Evangelização, D. António Couto frisou que este sector acentuará a missão no espaço europeu, “onde as Igrejas da velha tradição cristã estão a perder um bocado do seu ritmo e do seu rumo”.

Em relação à área do ecumenismo e diálogo inter-religioso, o prelado salienta que “quem é missionário está habituado a lidar com pessoas de todas as frentes”, propondo-se privilegiar o “aspecto prático”.

Para além desta experiência adquirida e da promoção de “encontros”, a comissão terá de reflectir também “em termos teóricos, com a documentação que vai surgindo”.
Fátima, 10Nov2011
in Ecclesia - OC/LFS


REPENSAR JUNTOS A PASTORAL DA IGREJA EM PORTUGAL

Instrumento de trabalho
Apresentação

A Conferência Episcopal Portuguesa decidiu promover um caminho para “repensar a pastoral da Igreja em Portugal”, de modo a adequá-Ia melhor ao mandato recebido de Jesus e às circunstâncias actuais. Como ponto de partida, foi elaborado o documento “Formação para a missão -formação na missão”. Nele se aponta este objectivo: “encontrar uma compreensão comum a todas as Igrejas de Portugal dos caminhos da missão e enunciar prioridades de opções e dinâmicas de acção com as quais todas as Dioceses se comprometam”. E refere-se como método a leitura dos “sinais dos tempos”, segundo a perspectiva do Concílio Vaticano II (cf. GS 4 e 11 ).
O presente instrumento de trabalho dá continuidade prática ao citado documento, que indica: ”Temos todos de perscrutar o Espírito, para na autenticidade do que somos, merecermos o futuro que Deus quer e nos dará”. Daí a oração que deve marcar e inspirar este esforço eclesial: “Ensinai-nos, Senhor, o vosso caminho e caminharemos na verdade. Dirigi a vossa Igreja em Portugal, para que honre e testemunhe o vosso Nome” (cf. S/86,11 ).
Neste esforço para repensar a pastoral, pretende-se envolver num caminho sinodal, em comunhão e colaboração, a nível diocesano e nacional, os múltiplos agentes pastorais (bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, movimentos, associações de fiéis e outras obras eclesiais ). Assim, o itinerário percorrerá várias etapas, como se dirá mais abaixo. Não de trata de realizar um sínodo nacional mas tão só adoptar o espírito e o estilo sinodal.
O método com o qual se começa é o discernimento pastoral. Trata-se de um processo de observação, análise e perscrutação dos sinais de Deus na realidade da vida da Sociedade e da Igreja. Em termos pau linos, procura-se “discernir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é agradável, o que é perfeito”, em ordem a determinar o caminho e os modos de a Igreja em Portugal cumprir de modo mais frutuoso a sua missão. Este processo, conduzido na atenção e docilidade ao Espírito Santo, requer previamente da parte de todos os que nele se envolvam a disponibilidade para se deixar ”transformar, adquirindo uma nova mentalidade” (cf. Rm 12,2 ).
Neste caminho eclesial, procura-se atingir os seguintes objectivos específicos:
1. Chegar à consciência clara do que realmente move a Igreja na acção pastoral e à convicção de que sem uma confiança ‘firme e a comunhão profunda com Cristo e em Cristo nada se pode fazer (cf. Jo 15,5 ).
2. Discernir os sinais de Deus na sociedade actual, como apelos e luz que permite à Igreja vislumbrar o horizonte para o qual se deve orientar.
3. Identificar e acolher a ajuda actual de Deus, com a qual abre à Igreja novos caminhos ou possibilidades inovadoras em ordem à sua missão pastoral.
Instrumento de Trabalho

I. Itinerário sinodal proposto
Para pôr em andamento este processo, propõe-se a todos os pastores das dioceses e aos dirigentes e responsáveis das variadas expressões da Igreja em Portugal a prática da comunhão e da colaboração eclesial em ordem à identificação das linhas comuns de acção pastoral. Elas não porão em causa o caminho e as legítimas opções de cada diocese ou organismo eclesial mas deverão inspirá-Ias e constituir o horizonte comum de referência.
Mediante o trabalho de discernimento pastoral, à luz do Evangelho e na atenção e docilidade ao Espírito, procuramos identificar progressivamente o caminho por onde ir e as prioridades a assumir, sabendo que não deixaremos cair os esforços habituais, mas colocamos o empenho principal nos novos caminhos…
Para essa caminhada, propomos os seguintes passos:
1. A Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) aprecia a presente proposta e instrumento de trabalho, apresentado pelo grupo promotor representativo das Dioceses e outras instâncias eclesiais em ordem a lançar a dinâmica da procura e do discernimento pastoral. Sendo aprovado, torna-o público para se pôr em prática. (Abril de 2010 )
2. Nas Jornadas Pastorais do Episcopado, a CEP começa o processo de “repensar juntos a pastoral da Igreja em Portugal”, revendo experiências e ouvindo o contributo de peritos em teologia e pastoral e de figuras da sociedade civil e da cultura. (Junho de 2010 )
3. Durante vários meses, nas Dioceses (conselhos pastorais ou outras instâncias), nas conferências ou direcções nacionais dos institutos de vida consagrada e dos movimentos e associações de fiéis far-se-á o trabalho de discernimento pastoral, conforme se propõe mais adiante. (Setembro de 2010 a Março de 2011 )
4. Depois, o resultado deste trabalho, com os vários contributos diocesanos e nacionais, é recolhido e sintetizado no Secretariado Geral do Episcopado. (Abril de 2011 )
5. As conclusões recolhidas são depois reflectidas pelo grupo representativo das dioceses, congregações e movimentos. O resultado final será entregue à CEPo (Maio de 2011 )
6. Nas jornadas pastorais, estudam-se as formas de pôr em prática as orientações comuns nas Diocese e nas diferentes instâncias da Igreja. (Jornadas Pastorais do Episcopado, Junho de 2011 )
7. A CEP define as orientações pastorais comuns para a Igreja em Portugal. (Assembleia Plenária, Novembro de 2011 )
8. Três anos depois (2014 ), pelos meios julgados oportunos, a CEP avaliará o caminho pastoral feito e os seus frutos, e, se assim o entender, definirá a sua continuidade.

III. Proposta para o discernimento pastoral

(instrumento de reflexão)

1. Traços da situação actual
No Concílio Vaticano II, a Igreja reviu-se nas palavras de S. João (1 Jo 1, 2-3), nas quais declara que os apóstolos e toda a comunidade dos cristãos viviam em comunhão com Deus e com Seu Filho Jesus Cristo e deseja que os destinatários da sua carta pudessem também viver em comunhão com e como eles (cf. DV 1). Por esta comunhão com e em Deus, que é amor, a Igreja torna-se “o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano” (LG 1).
Todavia, a incarnação desta comunhão na vida e missão da Igreja em Portugal encontra dificuldades e resistências várias, que entravam o testemunho do Evangelho na sociedade e o serviço espiritual aos homens. A Igreja -nas suas múltiplas dioceses, congregações religiosas, movimentos, novas comunidades, associações de fiéis -vive dispersa em inúmeras actividades, encontros, jornadas, congressos, instituições … que parecem não ter ligação entre si nem dar aquela vitalidade e inovação significativa na vida dos cristãos, nem irradiar sinais de esperança na sociedade em que vivemos. Há nela muitas instituições sociais, meios de comunicação social, instituições de ensino e assistência … mas parecem ficar no seu âmbito próprio, sem serem vistas e reconhecidas, e nem elas mesmas parecem sentir-se e agir como membros diferenciados de um só corpo, a Igreja. As cartas, notas, mensagens e outros documentos pastorais da Conferência Episcopal têm algum impacto no momento em que são publicados, mas depois são esquecidos, não chegando a dar os frutos desejados. O processo de catequese, sobretudo na infância e adolescência, foi recentemente renovado e alargado, mas observa-se que, a não ser numa pequena percentagem, acaba por não gerar cristãos vivos e empenhados. Por outro lado, no que se refere aos jovens e aos adultos, não se têm conseguido grandes avanços na formação sólida da fé de modo a acompanhar os diferentes momentos da vida das pessoas. Que falta?
Ao mesmo tempo que se nota decréscimo em vários aspectos na Igreja em Portugal, também há sinais novos. Mencionamos alguns, a título de exemplo, para que se descubram outros: na sequência do sopro conciliar do Espírito, a vida da Igreja e dos cristãos tornou-se mais simples e fraterna, desenvolveu-se bastante a participação laical, quer no interior das comunidades cristãs quer mesmo nalgumas causas (solidariedade em causas emergentes, defesa da vida, afirmação da família constituída por um homem e uma mulher unidos pelo casamento… ), apareceram ou cresceram significativamente novos movimentos, comunidades e associações de fiéis, com propostas inovadoras de evangelização, de vida comunitária e de testemunho da fé no mundo… Não será, através destes sinais, que o Espírito Santo nos indica o caminho?
Vivemos, na Europa e também em Portugal, numa sociedade cada vez mais secularizada e, por vezes, secularista, abafando ou denegrindo o valor e a influência pessoal e social da religião, da fé cristã e da Igreja. Conforme a palavra de Deus proclamada pelo profeta, pode dizer-se que as pessoas escolheram confiar no homem e contar somente com a força humana, “afastando o seu coração do Senhor” (Jer 17, 5 ). Ao mesmo tempo, há sinais evidentes de que persistem nos corações humanos os anseios pela espiritualidade e pela comunhão com o mistério divino. E percebe-se o desafio à Igreja de saber comunicar o Evangelho de modo atractivo como “palavra que dá vida” e “vida em abundância”, e de fazer propostas cativantes que possibilitem matar a sede a quem procura saciar as inquietações do seu espírito pela comunhão com Deus.
Toda esta mudança social e cultural e a diminuição da relevância da Igreja constituem um apelo a todos os seus membros, para sermos, como escreveu João Paulo II, “mais humildes e vigilantes na nossa adesão ao Evangelho” (NMI6 ). A Igreja em Portugal é assim chamada a viver em atitude de serviço generoso e a ser fermento pela autenticidade das suas propostas e do seu testemunho. Diz alguém: 110 mundo é de quem o ama e sabe melhor prová-lo”.

2. Três aspectos para uma “nova maneira de ser Igreja”
Analisando a situação da Igreja em Portugal, nos seus múltiplos membros e actividades, e as circunstâncias sociais e culturais do nosso povo, parecem emergir três questões cuja resposta pode indicar o caminho para as prioridades da acção pastoral. São elas: a exigência da formação cristã, para sermos melhores fiéis e darmos testemunho do Evangelho; o empenho criativo, ardente e frutuoso na nova evangelização, com um modo cristão e eclesial novo de estar e agir 110 mundo; a reorganização das comunidades cristãs, que passa pela descoberta de novas formas de exercício do ministério sacerdotal e a implernentação da diversidade de ministérios eclesiais.
Estas possíveis linhas comuns de acção pastoral deverão ser confirmadas ou eventualmente alteradas, após o processo de discernimento pastoral. Através dele, somos convidados a acolher o rnesmo convite que o Espírito disse ao vidente do Apocalipse, quando lhe apresentou o retrato das Igrejas da Ásia Menor (Ap 2-3 ): trata-se de dar ouvidos ao que o Espírito hoje diz às Igrejas que estão em Portugal (cf. Ap 2, 7.11.17, etc. ). Na observação, escuta e discernimento do caminho a seguir, não podemos deixar de atender à recomendação do apóstolo Paulo: “Não apagueis o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo, guardai o que é bom” (1 Ts 5,19-21 ).

3. Questões para o discernimento pastoral
Neste caminho sinodal, procuramos fazer um discernimento em profundidade, identificando os sinais, a luz e a voz do Espírito. A Igreja em Portugal, através dos seus múltiplos responsáveis, é chamada a deixar-se interpelar e a tomar consciência de si mesma e das convicções que a movem, examinando se vive realmente o Evangelho de Jesus Cristo e se está a corresponder aos seus apelos.
Apontam-se duas grandes questões para o discernimento: uma sobre a leitura de fé dos sinais de Deus na sociedade e outra sobre os sinais e indicadores do Espírito Santo na própria vida da Igreja. As respostas deverão ser recolhidas e remetidas ao Secretariado da Conferência Episcopal.

1. Igreja em Portugal, “que vês na noite” da sociedade em que vives (cf. Is 21, 11 )? Quais os sinais de Deus e os desafios para a tua missão? O que verdadeiramente precisam as pessoas de hoje, a nível espiritual e humano, e o que podes tu oferecer-lhes?
2. Igreja em Portugal, que indicações ou rumores do Espírito encontras hoje em ti (experiências, carismas, dinamismos existentes… ) a apontar-te o estilo de vida cristã e a “nova maneira de ser Igreja” adequada aos tempos de hoje? Que caminhos pastorais te assinalam os sinais e os dons do Espírito para viveres e testemunhares o Evangelho de Cristo?

4. Leituras de apoio a este itinerário de renovação pastoral
Para além dos textos base (desde a Sagrada Escritura ao Concílio Vaticano II. ..), destacamos: Exortação Apostólica pós-sinodal «Ecclesia in Europa» de João Paulo II, 2003; Carta Apostólica «Novo Millennio Ineunte» de João Paulo 11,2001; Papa Bento XVI em Portugal-Discursos e homilias, 2010; Servidores da Alegria, Cardeal Walter Kasper, 2009 …

Documento aprovado na Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa Fátima, 14 de Abril de 2010